"Estive
pensando muito na fúria cega com que os homens se atiram à caça do
dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da
incompreensão da nossa época. Eles esquecem o que têm de mais humano e
sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura
para criatura. De que serve construir arranha-céus se não há mais almas
humanas para morar neles?...
Está
claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e
ficar deitados à espera de que tudo nos caia do céu. É indispensável
trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem
beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas
construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso, nos estiver
deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as
aves do céu.
Não penses que estou fazendo o elogio
do puro espírito contemplativo e da renúncia, ou que ache que o povo
deva viver narcotizado pela esperança da felicidade na "outra vida". Há
na terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres fortes, para
corações corajosos. Não podemos cruzar os braços enquanto os
aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as
guerras e as intrigas cruéis. Temos de fazer-lhes frente.
É indispensável que conquistemos este
mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim com as do amor e da
persuasão. Considera a vida de Jesus. Ele foi antes de tudo um homem de
ação e não um puro contemplativo.
Quando falo em conquista, quero dizer a
conquista duma situação decente para todas as criaturas humanas, a
conquista da paz digna, através do espírito de cooperação.
fonte do texto:
Olhai os Lírios do Campo, de Érico
Veríssimo. 5ª edição. Editora Globo.
fonte do texto:
Olhai os Lírios do Campo, de Érico
Veríssimo. 5ª edição. Editora Globo.
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